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JORNAL POP

OFICINA: O ACTOR-CRIADOR


A improvisação, na origem do processo de criação, desenvolve-se a partir de ferramentas da dramaturgia que permitem aos actores o estabelecimento de estruturas, redes e escalas que norteiam a intencionalidade e a inventiva de uma obra.

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS:


Reactividade e não-reactividade | Imobilidade e acção | Olhar frontal e incidentes | Acção e objectivo | Pantomima e manipulação de realidades imaginárias | Onomatopeia e grummelot | Despersonalização: criação de personagens (da encarnação à sugestão) | Obstáculo e conflito | Modelo actancial | Estrutura de uma improvisação | A oralidade épica | Apresentação sem quarta parede | A basculação do olhar | Ensaio e repetição | Espectáculo final (a apresentação pública far-se-á nas últimas duas horas da formação ou em tempo subsequente)



CONDIÇÕES:


Total de horas: 30


Equipamento: roupa confortável que permita gestos largos e trabalho de chão. Meia collant preta de mousse (para tapar os cabelos) e ausência de objectos ou intervenções relacionados com a estética pessoal, assim como outros utilitários que correspondam à vida quotidiana do indivíduo singular (como brincos, piercings, pulseiras, colares, relógios, anéis, unhas pintadas/de gel, maquilhagem, etc.)


SINOPSE


A improvisação, na origem do processo de criação, desenvolve-se a partir de ferramentas da dramaturgia que permitem aos actores o estabelecimento de estruturas, redes e escalas que norteiam a intencionalidade e a inventiva de uma obra. Não raro, habituado a depender de um estímulo prévio e extrínseco (normalmente, um texto dramático escrito), o actor sente-se desamparado, sem confiança e “sem ideias”, quando os processos necessitam que a improvisação participe de uma pesquisa ou, inclusive, se consubstancie na própria encenação.


Pode o actor ter um “novo cérebro”, assumir a improvisação como um trabalho que flexivelmente se repete, evolui e se transmite de forma intencional, consequente e capaz de suscitar um encontro vivo? Pode, simplesmente, esta sua arte do desdobramento encarar o espaço vazio e o desconhecido inerentes à descoberta, numa perspectiva mais consciente, estruturada e intencional?


Ao longo de toda a oficina, três momentos históricos estarão sempre em fundo, evocando de forma muito íntima e óbvia o paradigma do Teatro Total: (1) a prática da oralidade épica dos bardos, poetas e contadores de histórias desses séculos imediatamente anteriores ao advento tecnológico da escrita, (2) o trabalho virtuoso e de grande inventiva do actor renascentista/barroco da Commedia dell’Arte e (3) o movimento dos renovadores dramáticos, na viragem do século XX que, com os impulsos iniciais do simbolismo, projecta criadores que buscam, paradoxalmente, um teatro sem actores (sombras e estátuas) ou, pelo menos, atenuando a sua presença, desmaterializando a “carne” com marionetas-humanas, máscaras e tudo o mais que os afastasse da contingência material do corpo e da estética naturalista.


Num tempo em que se expulsa o outro, se destrói a interdependência formal ver fazer ou, ainda, se fere vitalmente a esfera do espaço público, a oficina O Actor Criador procura ainda dar contributos objectivos para que o actor dependa de si próprio, para que aprenda a restabelecer o vínculo com quem o observa, o complementa e o faz constituir-se: o espectador.


Complementando um trabalho de 30 horas onde se convidaram os participantes a estruturar ideias e a defendê-las com o corpo no espaço, finalmente, projecta-se uma sessão aberta ao público em forma de espectáculo onde o acervo de trabalhos se apresentam publicamente, num potencial que se pretende sobretudo em torno da identidade, da memória e da inserção cultural.

ORIENTAÇÃO DRAMATÚRGICA DO WORKSHOP


Os exercícios e práticas deste workshop terão como pano de fundo todo um imaginário de narrativas reais ou fictícias relacionado com a temática da migração. A vida de imigrantes e emigrantes, a sua intersecção, a tensão conflituosa e paradoxal dos seus mundos – quando na verdade se é emigrante em terra de emigrantes – serão elementos capazes de transportar o trabalho para uma apresentação final. Identidade, (des)povoamento, comunidade, família, (des)emprego, (des)inserção cultural, globalização, turismo, exílio, constituem-se como temas de uma pequena mostra que este objecto tornará patentes para um público. Sem a quarta parede, olhos-nos-olhos, um encontro com actores e espectadores que liga uma realidade antiga e profunda à situação actual da Região Autónoma dos Açores.



DIRECÇÃO DA OFICINA


Nuno Pino Custódio, expôs encenações no Teatro Meridional, O Bando, Companhia do Chapitô, Teatro do Montemuro, As Boas Raparigas, Teatro dos Aloés, Teatrão, FC - Produções Teatrais, Companhia da Chanca ou ESTE – Estação Teatral, entre outros. Foi Director Artístico do Teatro Experimental A Barca (1990-98), Teatro das Beiras (2004), Teatro Oficina (2005-06) e ESTE – Estação Teatral (2004-21), assim como do Festival TeatroAgosto (2005-19) e da I Feira Ibérica de Teatro do Fundão (2019). Desenvolve uma metodologia de interpretação com máscara, tendo colaborado como pedagogo com: FLUL, UE, ESEC, ESMAE, ESTAL, Conservatório de Música de Coimbra, Circolando, Teatro Meridional, O Bando, Escola da Máscara, FIAR. É professor na ACE (Porto) e na ACT (Lisboa). Encenou e ministrou oficinas no teatro universitário: GRETUA, CITAC, GEFAC, TEUC e TUP. Foi investigador do Centro de Estudos de Teatro da FLUL, entre 1996 e 2000. Em 2022 fundou a Non-Player Character, uma estrutura desenhada para o desenvolvimento da ideia de teatro que tem vindo a pesquisar desde há três décadas.




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