Esta história revela o imaginário e a mitologia da comunidade micaelense, açoriana e portuguesa, para sempre transformada pelos eventos que ocorreram entre 1974 e 1975. O universo do cinema é conhecido por desafiar o consciente coletivo ao longo dos tempos, e assim, à sua maneira, este filme pretende fazer isso mesmo convidando várias gerações a explorar juntas esta trama, restaurando o valor e a curiosidade que este período merece na nossa história e tempo.

   A imagética que este filme constrói, assenta num lado alegre, rebelde, inocente, aventureiro, cúmplice e apaixonado que se propõe como uma alternativa à recorrente visão melancólica associada ao viver nas ilhas.

   Por outro lado, no reencontro dos protagonistas 30 anos depois, o ambiente de Ponta Delgada é o do seu tempo no mundo. Uma cidade normal, igual a outras tantas cidades médias portuguesas, mas com uma dimensão insular e microcosmos social, singulares.

   Cristina, personagem que regressa à ilha, é uma artista que vem expor a convite de uma galeria, um convite de uma comunidade do seu tempo que reclama a contemporaneidade que merece. Guilherme, aquele que sonhou tão alto como ela, mas que ficou para trás, sente-se confrontado com o seu passado e, como tantos outros, com os seus desejos adormecidos.

   O momento do reencontro, levanta as questões existencialistas universais, naturais a esta faixa etária, quer se viva no campo ou na cidade, num país ou em qualquer outro. O que a torna especial esta história é ser contada a partir dos Açores, numa das pequenas nove ilhas que resistem no meio do enorme oceano Atlântico.